Amor e verdade como critérios primordiais de gestão
20 de August de 2021 in "Human Resources Portugal"
Há 20 anos que Paulo Barradas Rebelo está à frente daquele que é um sonho tornado realidade: a Bluepharma. Acredita que é a solidariedade que o distingue enquanto líder, garante que é nas pessoas que centra a sua gestão, e não abdica de dizer a verdade.
Leia na íntegra toda a entrevista aqui.
Um conjunto de amigos com o sonho de contribuir para o bem das pessoas, em primeiro lugar, e para o bem do País e da sua economia, não deixou Coimbra ver perder mais uma indústria, gerando, em consequência, mais desemprego, e adquiriu a farmacêutica alemã Bayer. Encarado com um ímpeto maior, quando surgiu a oportunidade, Paulo Barradas Rebelo, Sérgio Simões, Maria Isolina Mesquita e Miguel Silvestre avançaram «de forma muito natural, numa época em que ainda muito pouco se falava de empreendedorismo em Portugal, muito menos de inovação». Volvidas duas décadas, o sonho é agora um grupo constituído por 20 empresas e 750 pessoas, «uma conquista que não foi feita da noite para o dia» e com muitas dores de crescimento. Mas que têm valido todas a pena.
Tem-se referido à criação da Bluepharma como uma história de sonho, empreendedorismo e resultados. Como é que começou esse sonho e como é que passou à realidade?
Sem dúvida uma história de sonho, mas um sonho de um conjunto de amigos que tinham a mesma visão e perspectiva para o mercado de medicamentos, o mesmo sentido de urgência, espírito de missão e de compromisso.
Acreditámos que a indústria Farmacêutica e o sector dos medicamentos genéricos, ao estarem na primeira linha da democratização da utilização destes bens essenciais à humanidade, poderiam dar um valioso contributo à reindustrialização do País, promovendo mais e melhor emprego, numa área de alta tecnologia e potenciando o sistema científico nacional.
Conhecendo muito bem o sector do medicamento, instalou- se uma inquietude perante a realidade à nossa volta, e a semente para o sonho de contribuir para um acesso melhor e mais barato a medicamentos de qualidade em Portugal estava lançada. Sabíamos que tínhamos de fazer alguma coisa: contribuir para o bem das pessoas, em primeiro lugar, e para o bem do País, reduzindo a sua despesa e aumentando as exportações e, definitivamente, colocando os medicamentos em Portugal ao serviço dos doentes a um custo acessível. E se as coisas nos corressem bem, o sonho escondido era contribuir para lançar no mercado um medicamento inovador para uma necessidade não satisfeita.
Comungavam desta perspectiva o Sérgio Simões, a Maria Isolina Mesquita e o Miguel Silvestre, vice-presidentes e co-fundadores da Bluepharma, e quando a oportunidade surgiu, agarrámo-la. Um dia, estava a tomar café e vi que a farmacêutica alemã Bayer estava a colocar à venda a unidade que tinha em Coimbra. Fomos visitá-la e percebemos que era ali que podíamos dar vida ao nosso sonho.
Sentíamos a responsabilidade de contribuir para o País e para a cidade de Coimbra, que não podia perder mais uma indústria, gerando, em consequência, mais desemprego. Adquirimos esta unidade e, em 2001, o nosso sonho ganhava vida.
De onde vem esse espírito empreendedor e porquê a escolha da área farmacêutica?
Foi o exemplo da minha mãe, que me inspirou com o espírito empreendedor, com o sentido do fazer e do tempo. Ensinou-me que vale a pena alimentar o sonho, porque o tempo passa e é nesta passagem que alcançamos os nossos sonhos.
Depois, empreender em conjunto foi uma resposta natural a algo que tinha de acontecer. Foi um ímpeto maior do que nós. Tinha de ser. Existia o conhecimento, todos nós tínhamos passado pela Universidade de Coimbra e a maioria era licenciada em Ciências Farmacêuticas. Tínhamos vidas profissionais ligadas ao medicamento através da farmácia, da distribuição e da indústria farmacêutica, e também, muito importante, ao associativismo bem-sucedido, onde adquirimos a confiança necessária para abraçar um projecto como este.
Quando surgiu a oportunidade, avançámos de uma forma muito natural, numa época em que, de facto, ainda muito pouco se falava de empreendedorismo no nosso país, muito menos de inovação, e com índices fraquíssimos de exportações.
Quais as principais conquistas que identifica nestas duas décadas de Bluepharma?
Numa retrospectiva mais alargada, o facto de termos começado com 58 pessoas e sermos, 20 anos depois, um grupo constituído por 750 pessoas altamente qualificadas e muito motivadas, inseridas em 20 empresas, que entretanto criámos, que permitem fornecer mais de 100 outras empresas entre as principais multinacionais farmacêuticas que operam na área dos medicamentos genéricos, e exportar para mais de 40 países, é, sem dúvida, a nossa maior conquista.
Uma conquista que não foi feita da noite para o dia, em que sofremos as dores de crescimento de qualquer organização que se reja por critérios de rigor, qualidade e compromisso, mais ainda numa área tão difícil quanto a nossa, com muitos condicionalismos, altamente complexa e regulamentada, muito competitiva e permanentemente dependente do erário publico e de políticas nem sempre coerentes.
A primeira década foi a fase da reestruturação da empresa, do desenvolvimento e de lançar os principais pilares da produção, da investigação e desenvolvimento e da comercialização de medicamentos. A segunda década foi o tempo de consolidar as equipas, consolidar os clientes nas diferentes geografias e crescer. Fomos acompanhando de forma muito interessante o mercado e o desenvolvimento que Portugal teve, que é assinalável, na área do medicamento. O ano de 2021 marca a entrada na terceira década de existência, uma fase pautada pela aceleração do nosso crescimento.
O sector também evoluiu…
À data da nossa fundação, em Portugal, apenas 0,13% dos medicamentos vendidos nas farmácias eram genéricos, número que actualmente ascende aos 48,7%, segundo dados do Infarmed. As pessoas têm hoje mais acesso a medicamentos de qualidade, o que se reflecte na sua saúde e no seu bem-estar, e isto não é uma questão menor, é sem dúvida uma grande conquista e, claro, temos orgulho do papel que tivemos, estando hoje já entre as 300 maiores empresas exportadoras a nível nacional, com praticamente 90% da nossa produção a ser absorvida pelo mercado externo.
Leia na íntegra toda a entrevista aqui.
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